Talvez por não saber mais existir sem ensinar alguém a sentir

À mim, animal noturno, áspero, na estepe, difícil de amar, com manutenção de peças raras em euros, e tão munido de outrificações quanto ausente de si.

Eu, quase como quem tropeça numa pedra onde antes havia um abrigo.
(...e havia?)

Podre por essência 
Manchado de pensamento
Demitido do afeto com sucesso
Dessa vez sem jogar nenhuma carta de uno
Eu vivo, Fanon, vivo a morte de todas as formas
Eu morro, Mbembe, no epistemicídio de ser nomeado sem sequer e sem tampouco minha própria adesão 
Kristeva, eu sou aquele que pergunta sem permissão, o prepotente objeto, obsessivo abscesso da obsoleta abjeção
E a sutileza é parte da violência:
ela permite que o dano continue sem ser nomeado como tal.

Esse familiar buraco que suga e a tudo engole, fazendo restar apenas - e tão somente apenas o ódio.

Horrível, violenta necessidade: "eu quero que você fique, mas não me permito a vulnerabilidade de pedir, me assusto de vir a conhecer cada possível microexpressão tua de espanto e ojeriza".

Para cada CRP que a mim apelidou - "porco-espinho!" - sem passagem e sem permissão, com permanência e à ferro e fogo - você, se fosse também animal acuado, não se protegeria? Não teria medo de oferecer tua casa inteira pra quem só consegue plantar uma flor no jardim?

Enquanto isso, sigo pela via: "eu preciso que você adivinhe - e eu vou demostrar, vou mostrar de forma tão natural, tal qual a previsibilidade que se encontra no nicho ecológico de um lobo terrível em extinção"
"...e que se perde quando a aliança ética se dissipa em um "não sei""

Sigo pela via que não mais lucidamente sonha o sonambulismo de vir a ser aquela via de mão dupla, e que por vezes acolhe que a única possibilidade de existência é seguir experimentando as diferentes formas de ser e abrigar uma ciclovia da morte - de via única, mão única, sem retorno e sem extensão suficiente para alcançar outro corpo que não a própria carne putrefata.

Pistas, signos e símbolos - decifre minha linguagem. 
E não vai ser fácil.
(Por favor. Por favor. Por favor.)
(Eu sinto muito.)
(Jaz aqui o comprometimento real de um "desculpa por")

...E que a desobediência afetiva nos guie sempre 

Num passe esportivo, ou em uma dança carnavalesca, tome em suas mãos a semiótica da minha necessidade, e esvazie, esvazie meus dentes, unhas e grunhidos do império que (tamanho ódio) veio a ser

Não me faça ser professor de minha própria mágoa.
Não me faça ser a pessoa que faz a manutenção da ponte, ainda que esteja se afogando embaixo dela.

...Não dê as costas para o meu ódio.
O quanto¹ sempre esteve circunscrito em mim - e nunca em você - o quanto² o mundo pode pesar de um jeito torto sobre as costas quando ele exige uma leveza que não tem como vir.

Não se assuste (por favor). 
Fique (eu imploro). 
Não tenha medo.
Se você ficar, me transformo em um aeroporto para que você estacione; construo, tijolo por tijolo, o manifesto de um lar pro teu pouso e repouso; uso todas as habilidades citadas no meu LinkedIn para ser uma nascente de maciez, brandura e suavidade; 
...E, pra te proteger, entro em guerra com Brasil, Estados Unidos e Israel, viro quasar e aniquilo o buraco negro TON-618.

Não me evite tal qual eu a tudo evito
À mim, um silêncio-casulo
Uma súplica inefável por um olhar que não me cegue
Uma instável conjuração, choro abortado, enjaulado em sufoco
Há em mim um silêncio-casulo
"Não me veja. Me veja. Não me enxergue. Me enxergue."
"Se eu for embora antes, não verei sua partida"
"Fique. Me chame. Me peça. De peça em peça, me habite, me molde em você, sem manual, sem adeus, apenas com labareda, com fúria, com afeto renegado, com carinho que é mais e é mais e é mais e é cada vez - cada vez mais"

Mas você ainda não olhou de volta. 
Ou olhou e desviou rápido.
Eu me calei te esperando. 
E você pediu paciência enquanto me desviava.

Me incendeie. E permita que eu o incandesça. 
Com todo o aval de não ter aval.
Com o empirismo em carne viva que cicatriza a ferida aberta do "você é difícil de amar" em cada sutura de "eu te amo"

Se, em mim, você amar cada cubículo cúbico que me ensinaram a odiar 
Se, em mim, você enxergar orgulho - pelo que quer que seja - onde fui doutrinado a apenas sentir vergonha
Se, em mim, você virar núcleo, sobrepor naquilo que sou "teu" pronome possessivo
Serei teu líquido imiscível, orbitarei em elipse contigo as translações que só podem ser visitadas por um processador de dois núcleos 
Por vezes, serei teu overclock, tua exaustão 
Mas na subjetividade do sempre, vou moldar meus braços e pernas de forma que te encaixe por inteiro, que repita teu nome em voz alta, e vou ser o lastro de prazer toda vez em que você me permitir ser teu colo.

Se você me renegar o abandono, com a certeza da sua estadia em mim, vou te habitar por completo, serei o espaço que se abre e que sorri toda vez em que você conquista uma nova forma de amor diferente, em cada lugar diferente - e que, cada vez mais, tenta te apresentar toda sinestesia de um amar de todas, um amar em arquipélago, em constelação, em rede - em uma rede que te adormeça e desperte a cada dia com uma nova sinestesia de afeto, um novo XP diferente de amar, que toque em ti, em outras, que seja elo, e que não te censure.
Você seria minha posse, em toda ambivalência na necessidade de uma existência situada.

Se você me alcançar - eu vou continuar correndo, e correndo, e fugindo por entre cada falange sua 
Em paradoxo, implorando para ser a presa, engolindo uma glândula lacrimal tão seca de afetos que implora pra entrar em prantos na possibilidade de ser atingido por um alento, um abraço, qualquer coisa - qualquer coisa 
Se você tocar, em mim (sem que eu peça), onde ninguém até então enxergou desejo
Se você me tocar sem medo, com urgência e impulso, serei o gozo que escorre por entre a alvorada do caos
Te entrego em sedex tudo de mim, faço de mim um empréstimo de FGTS, e, em cada partícula, em cada partícula, eu fico.

Você não vai precisar pedir.
Eu estarei atento.
Em você. Por você.
Como ninguém, até então, (não) esteve atento em mim.

Seja por vaidade conceitual ou refúgio alavancado em uma prepotência cognitivista - aqui, alguns dos meus trechos preferidos de cartas que nunca chegaram até min

“Você não é a causa do abandono.
Você é a lembrança de que o mundo deveria ser outro.”

"Eu sei que há espinhos, mas eu quero ver se ainda há alguma rosa embaixo. E se não houver — que seja minha mão a última a verificar."

.......Mas, pra me proteger, quem vai entrar em guerra com Brasil, Estados Unidos e Israel, quem vai virar quasar e aniquilar o buraco negro TON-618?

Quando a madrugada passar, minha vez ainda não vai ter chegado.

E se a minha vez nunca chegar?

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