Não.

Bah, não.
A minha rata coça a cabeça como um catalisador de energia, a minha garganta se empelota com uma fileira de anêmonas lancinantes.
Eu olho o teto, eu olho o chão, eu sou aquilo que me habita.
O medo do qual sinto falta, a dor que almejo.
O escarro de quem mesmo o fez, o tutorial para o fracasso psicológico.
Sou um acidente de trem, um titanic pós-moderno.
Bah, não.
Minhas ratas se dão bem. Agora mesmo, se divertindo muito.
Enquanto espirram, enquanto eu tusso e escarro a mim mesmo através de meus fluidos.
Enquanto eu sou a comorbidade que flui para aqueles com os quais me importo.
Bah, sim.
Eu frustro, eu machuco, eu pisoteio, eu amarro.
Eu tenho medo, eu tenho dor, eu sou a dor.
O silêncio é minha dismetropsia.
Talvez porque no silêncio as coisas não fiquem claras.
Eu sempre gostei de coisas as quais não pude ver.
Não pude evitar.
Sangue.
Um paradoxo, um ferido que corre atrás da continuação de sua própria espinha dorsal.
A rata nas minhas costas, a minha garganta inflamando.
O panorama todo se espalhando como uma epidemia esquizoafetiva.
Bah, não...
Eu não gostaria de depender de palavras.
Eu não gostaria de ser limitado dentro de formas geométricas pré-establecidas.
Eu não gostaria de ser aquilo que involuntariamente cresce dentro de mim¹, ao passo que uma parede plasmática colossal de esporos reprodutivos exalam pedantismo que cresce como erva-daninha dentro de mim².
Dentro de mim³
Bah, cara, simplesmente, não.
O caderno incompleto, a temerosidade latente, as crises insuportáveis de enxaqueca, as ratas enfraquecendo, a leve dormência que se estabelece em meu sistema auricular.
Não, as ruas ensangüentadas, a surdez, a escotofobia e o terror noturno, o alprazolam e a coma de três dias.
Talvez, se houvesse a oportunidade...
Eu não gostaria de poder me compreender.

Comentários

  1. Deixar pra lá tudo que me faz mal,
    pisar em cima do que é ruim
    recomeçar,recomeçar sempre, a cada dia,a cada hora
    eis a beleza, eis o porvir...
    meu passado, puft, já era, não posso muda-lo
    meu futuro, putz,distante...,onde andará
    quizas possa muda-lo
    meu presente... presente...
    já esta sendo dito,é o meu presente
    aquele que me dou,aquele em que vivo,
    aquele que me ajuda a esquecer meu passado
    e a planejar meu presente...
    belo presente.

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    Respostas
    1. Lapidar o passado para processar aprendizagem ou maturidade, reconhecer que são campos interseccionais contínuos, que nos completam em nossa incompletude. Tomada de conhecimento do passado, de discernimento reflexivo e ativo, para compreender o presente e tentar, ao seu próprio ritmo, lidar com a melodia do futuro distópico/utópico.

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