A luz não é para todes

Um youkai geográfico retornou de forma subcutânea, inflamatória e dissoluta
Rasteja, rasteja - fulgura ao morrer nestas entranhas
Mesmo o mais frio fulgor da febre crônica 
E com os mesmos espasmos mortos do cascalho 
Ele avança sob um fleumático manto
No triângulo das bermudas 
Na incógnita da partícula x17 
Preso em uma rede de paradoxo temporal
Mas avança
Como uma dama preta em h4 num xeque-mate em menos de cinco minutos de partida
Sua orografia fechou o zíper da planície
E abriu os botões da depressão
Querer costurar o lacre desse relevo com um planalto cristalino 
Seria esconjuntar o basalto vulcânico - um magma que nunca extravasa
Uma punheta que nunca termina 
Uma doçura mais amarga que um suco de pózinho barato
Garfou o tridente na cúpula do limbo 
No jazigo de emoções prematuras
Na sepultura que jamais será erguida, mesmo sem que o saiba 
Ainda que num degelo iminente 
Não é ousado dizer que jamais se liquefará 
Avança, avança sob as vozes que o oceano sufocou 
E crava em mim obtusas memórias e exaustões 
Futuros imperfeitos do particípio 
Avança, incuba o sangue derramado 
Torna-me uma cascata de teus tesouros nodosos 
Escava, sulca a pilhagem de ossos decompostos 
Os pés cansados 
As mãos de um artista 
Mas, nesta orografia
Duas retas paralelas jamais serão concorrentes 
Avança, murcha, acende os faróis e acaricia esse aborto romântico 
Qual abutre na penumbra 
Que, após o aceno 
Chora pela alvura 
Louva o Sol na etérea altura 
E implora, enclausurado na cápsula obscura

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