Epístola (per aspera ad astra)

Nós nos traímos por todos os poros
Uma sujeira, um lapso no tempo!
Você criou, com zelo e dedicação, uma doença cuja ambição é viver além de seu hospedeiro
Quem vai me ajudar a sacudir as maçãs dessa árvore genealógica?
Para que o outono, com suas folhas, abrace a gravidade dessas memórias
(auto-imune, devora o inflamatório)
A perda é uma arte colaborativa entre as pessoas que nos abandonam e as que permanecem
A pior carência de todas as carências vem como um sopro que se transforma em uma tosse leprosa, clamando por uma inesgotável querência que só pode se manifestar por meio da mentira 
Tudo precisa acabar
A goteira finalmente pára
(Não existe outro lado)
Conquanto o rugido de ontem cale o miado do hoje -
Todos os silêncios mesclam-se em dias compactos e rígidos
"É a distância que torna nosso relacionamento tolerável"
Na verdade, é a imprudência do teu comportamento fossilizado que torna até mesmo a distância o mais leve dos infindos martírios
Com hálito de carmesim e lágrimas verdes
O escoamento de uma vida sem confortos
Rolando de cárcere em cárcere
Inofensivo, desocupado, atolado em imersões
Velho prematuro, farrapo vivo
(desejaria enlouquecer se já não estivesse ensandecido)
O inexorável arrasto à ociosidade obrigatória
Dependente de outrem
Indigno e servil
(não podes pagar pela minha distimia, pois és muito prático, sobretudo em tua infidelidade e negligência)
Onde queres inseticídio, eu sou a barata
Tu, intransigente densidade, me figuras como
Um alento, despido de mim mesmo
(tá faltando eu)
Enquanto eu, ruído inaudível, odor inodoro, espasmo inerte - concordo
Enaltece que sou difícil de conviver, teimoso, deveras hipersensível, argumentador compulsivo, uma fábrica de problemas
Concordar mais, eu não poderia
E é por isso que traço a linha e ergo o teu sepulcro. 

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