A Influência das distorções cognitivas no comportamento altruísta
Segundo o colunista Fernando Reinach, o altruísmo está
associado à uma reação rápida, enquanto o egoísmo requer uma forma lentificada
de pensamento. Apesar de Reinach apresentar um estudo relevante acerca de dois
padrões comportamentais aparentemente dicotômicos, há de se considerar o âmbito
evolutivo e genético do altruísmo – que não necessariamente destila
generosidade ou empatia. Conforme cita o biólogo russo Sergey Gavrilets, “identificar
a dinâmica dos instintos sociais igualitários controlados pela genética e suas
raízes evolutivas é um passo necessário para compreendermos melhor a origem do
senso de certo e errado que é único aos humanos”.
O colunista Reinach levanta o questionamento: “será que
nossa forma rápida de pensamento é intrinsecamente generosa e nossa forma lenta
leva a uma reação egoísta?” O ponto é muito mais complexo que dois
comportamentos maniqueístas. Consoante à clássica obra de Darwin “A Origem das
Espécies”, há a seguinte teoria: suponha-se que
um conjunto de genes que o tornem mais propenso às atitudes altruístas – como
fornecer alimento às pessoas próximas. Ao dar comida para seus irmãos e filhos,
você colabora com a sobrevivência de gente que carrega seus próprios genes.
Sendo bom com seus parentes, você é bom consigo mesmo. Não existe almoço de
graça: uma atitude altruísta do ponto de vista do indivíduo ainda é interesseira
do ponto de vista do DNA – são só bases nitrogenadas se preocupando com suas
cópias que vivem nas células de outro ser vivo.
William Paley, filósofo e teólogo britânico,
levanta a
tese utilitarista e transcendente, isto é, defende a ideia de que o ser humano
tem por motivo de suas ações a busca do benefício particular: é a tendência da
ação produzir benefício para o agente que faz dela uma ação merecedora da
qualificação de virtuosa, afirmando, assim, que há uma razão egoísta para se
agir de modo altruísta. Nietzsche,
por sua vez, em “Humano, Demasiado Humano”, pressupõe que podemos ser
condicionados (não só externamente) a considerar o egoísta como bom.
Dadas essas premissas, é
plausível considerar a transmissão cultural como um processo no qual o membro
de uma comunidade é o replicador de informações comportamentais, e um certo
conjunto de membros, identificado pela adesão aos padrões de comportamento
implícitos em uma ou mais variantes culturais, é o interatuante. Essa
intuição é reforçada pela observação do papel das normas sociais e das
instituições, entendidas como promotoras e reguladoras das normas sociais em
várias sociedades. Nesse sentido, o senso da moralidade não é inato, mas
uma construção, uma convenção, uma espécie de condicionamento realizado pelo
elogio e pela censura. Em suma, seguindo o raciocínio de Nietzsche: “a maldade
não visa ao sofrimento alheio, e a compaixão não intenta o bem do outro”. O
sentimento da simpatia, nessa perspectiva, não é natural. Natural é o temor e
antipatia em relação ao estranho. Assim, o medo é o pai da moral.
Indubitavelmente, o que há é o vínculo dos sentimentos morais com a
sociabilidade, sendo algo determinante devido à alta estima dos seres humanos
pela opinião dos outros.
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