Neuro-o quê?
Tradução do texto:
http://neurocosmopolitanism.com/neuro-what/
Autor: Nick Walker
Autor: Nick Walker
Neurocosmopolitanismo (ou neurocosmopolitismo)
Apontamentos de Nick Walker sobre neurodiversidade, autismo e
emancipação cognitiva
Neuro-o quê?
26 de Julho de 2013
Bem-vindos ao meu blog, neurocosmopolitanismo.
Nesta primeira página, acredito que seja necessário oferecer um pouco de
informação básica sobre o título do blog, assim como sua principal temática. O
que diabos neurocosmopolitanismo quer dizer? Antes de chegar lá, é necessário
que, primeiramente, eu forneça definições básicas acerca de alguns outros
conceitos que serão temáticas centrais em minha escrita aqui: neurodiversidade e o paradigma da neurodiversidade.
Ao contrário do termo neurocosmopolitanismo, que foi cunhado por mim mesmo, o termo neurodiversidade existe desde, no
mínimo, 1999, e nos últimos anos começou a entrar em uso generalizado. No
entanto, muitas pessoas ainda não estão familiarizadas com o termo, ou até
agora não possuem uma definição clara de seu significado. Então, como grande
crente que sou em relação a ser claro e conciso sobre definições de termos, é
daqui que iniciarei. (A propósito, meu amigo e colega universitário Ralph
Savarese também cunhou o termo neurocosmopolitanismo, independentemente de mim
e quiçá antes de mim.)
Neurodiversidade é a diversidade de cérebros e
mentes humanas. A vasta diversidade presente na individualidade de cada mente
humana é produto de múltiplos fatores, incluindo o ambiente, a cultura, a
família, e a história pessoal. Contudo, as mentes humanas também possuem uma diversidade inata, que interage com
estes outros fatores, produzindo então a singular individualidade de cada ser
humano.
Somos uma espécie neurologicamente diversificada:
a enorme variação inata na individualidade dos corpos humanos estende-se até
nossos cérebros, que se diferem uns dos outros – assim como impressões
digitais. Essa diversificação cerebral significa uma variedade de estilos
cognitivos, uma variedade cognitiva de forças e fraquezas inatas, dádivas da
peculiaridade. Isso é o que significa neurodiversidade.
O paradigma da neurodiversidade é a
perspectiva que reconhece a neurodiversidade como ocorrência natural da
diversificação humana, assim como há a diversidade cultural, diversidade
racial, diversidade de gênero, diversidade de habilidade física e diversidade
de orientação sexual.
O paradigma da neurodiversidade reconhece que as
dinâmicas sociais que se manifestam em relação a neurodiversidade são semelhantes
às dinâmicas sociais que se manifestam em relação a estas outras formas de
diversidade e variabilidade humana. Estas dinâmicas também englobam a dinâmica
de relações sociais de poder – a dinâmica da ineqüidade social, privilégio e
opressão – bem como as dinâmicas pelas quais a neurodiversidade, quando
adotada, age como uma fonte de potencial criativo para um grupo da sociedade.
Assim, o paradigma da neurodiversidade é uma
estrutura complexa que conceitua neurodiversidade tanto como uma fonte de
potencial criativo e evolutivo, como também um eixo de identidade social e
interseccionalidade. (link para a página
norte-americana da Wikipédia, primeiro parágrafo traduzido a seguir, depois
voltando à página original)
Intersetorialidade/Interseccionalidade
(ou teoria interseccional) é o estudo de sobreposição ou intersecção de
identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação, ou
discriminação. A teoria sugere que – e
procura examinar como – diferentes categorias biológicas, sociais e culturais,
tais como gênero, raça, classe, capacidade, orientação sexual, religião, casta,
idade, nacionalidade e outros eixos sectários de identidade interagem em níveis
múltiplos e muitas vezes simultâneos. A teoria propõe que devemos pensar em
cada elemento ou característica de uma pessoa como intimamente ligado com todos
os outros elementos, a fim de compreender plenamente a própria identidade. Este
quadro pode ser usado para entender como injustiça e desigualdade social
sistêmicas ocorrem em uma base multidimensional. A interseccionalidade sustenta
que as conceituações clássicas de opressão dentro da sociedade, tais como o
racismo, o sexismo, o classismo, capacitismo, homofobia, transfobia, xenofobia
e outras crenças baseadas em intolerância e intransigência – não agem de forma
independente um do outro. Em vez disso, essas formas de opressão se inter-relacionam,
criando um sistema de opressão que reflete o "cruzamento" de
múltiplas formas de discriminação.
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Cosmopolitismo tem sido definido de diferentes
maneiras e por diferentes pensadores. Enquanto eu utilizo o termo, o
cosmopolitismo refere-se a uma atitude ou abordagem especial para a diversidade
cultural. Em Cosmopolitismo: Ética em um Mundo de Estranhos (2006),
Kwame Anthony Appiah escreve: "As
pessoas são diferentes, o cosmopólita sabe, e há muito a aprender com nossas
diferenças. Porque há tantas possibilidades humanas dignas de serem descobertas,
então nós não esperamos, nem desejamos que cada pessoa ou cada sociedade deva
convergir para um único modo de vida."
O indivíduo cosmopolita não só aceita a
diversidade cultural, mas também a valoriza como uma fonte infinita de
potencial de aprendizagem, beleza, inovação e sinergia criativa. Em Pátria
Terra (1999), Edgar Morin, um dos grandes pensadores cosmopolitas,
escreve que o cosmopolitismo envolve "um
imperativo duplo" para "preservar,
propagar, cultivar ou desenvolver”, ambos unidade e diversidade. "Devemos proteger simultaneamente as
especificidades culturais e promover fertilizações cruzadas e miscigenações",
Morin escreve, porque a criatividade e vitalidade das culturas e sociedades (e,
eu acrescentaria, de indivíduos) "se
alimenta de influências e confluências", enquanto " homogeneidade carece de gênio. "
O Neurocosmopolitanismo consiste em
aproximar-se neurodiversidade no mesmo espírito com o qual o verdadeiro
cosmopolita aborda a diversidade cultural.
Abraçar o paradigma da neurodiversidade é se
recusar a patologizar modelos neurocognitivos e experiências que diferem das
nossas, e aceitar neurodiversidade como
uma forma natural, saudável, e importante da biodiversidade humana - uma
característica fundamental e vital da espécie humana, uma fonte crucial do
potencial evolutivo e criativo.
O Neurocosmopolitanismo ultrapassa essa linha
de base de aceitação, tal qual o cosmopolitismo vai além da mera tolerância das
diferenças culturais. O neurocosmopolitanismo procura explorar ativamente, se
envolver com, e cultivar a neurodiversidade humana e seus potenciais criativos,
num espírito de humildade, respeito e abertura contínua para a aprendizagem e
transformação.
E este, amigos, é o tema principal que irei
explorar neste blog.
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