O paradigma cíclico da retroalimentação

O quociente de uma construção político-social capitalista de caráter essencialmente exploratório e predatório não poderia ser algo menos egocêntrico e narcisístico que sua própria acepção meritocrática que anula o viés da responsabilidade social, da filantropia e das divergências que elencam cada individualidade. A ditadura estética, enraizada na obsolescência presente neste contexto, pode superficialmente ser tangenciada pelo egocentrismo construído no baluarte ideológico capitalista, enquanto seu epicentro está conspicuamente estabelecido no arquétipo midiático que destila uma beleza discriminatória regada a programas de edição, anulando as peculiaridades características de um sujeito real que deveria contemplar-se em suas imperfeições corpóreas.
Enquanto não se entabula uma circunspecta divisão entre o paradoxo retroalimentar que é a relação de influência do indivíduo com o ciclo social, por que rejeitar a modificação corpórea? Ao passo que pessoas podem ser inconscientemente coagidas a aperfeiçoar seus corpos de acordo com a normatividade semeada pela imprensa, todos os corpos são produtos de uma cadeia complexa de relações sociais que não podemos prever linearmente, tampouco calcular. Todos os corpos são produtos de uma construção do complexo social, e assim representam uma continuidade assombrosa entre seu produto real e seu imaginário natural. Intervenções cirúrgicas são resultâncias da informatização, da industrialização, da descoberta de novas tecnologias instrumentalizadas para beneficiar os seres que delas desejam usufruir. A indústria cirúrgica retira o ser humano da posição de objeto construído e torna-o passível de agenciamento subjetivo; o que traz o questionamento do quão subjetivo realmente é, enquanto recebe estímulos multidirecionais para adaptações com as quais não necessariamente compactua, porém é ideologicamente violentado a compactuar.

O amor à forma e à imagem possui uma ligação de duas vias com o amor ao estrutural, aos valores, ao pensamento. Retroalimentam-se assim como o invólucro externo está conectado e subordinado ao conteúdo de seu recipiente. O litígio ao comportamento de obsolescência estética deve ser direcionado ao vetor que adultera as concepções do indivíduo e lucra com sua condescendência e subserviência ao sistema, por conseguinte sendo induzido a alterar não apenas seu físico, mas seu ideológico, a favor do padrão midiático que germina paradigmas flexionados a seu bel-prazer, ao prazer do viés capitalista da indústria cirúrgica e farmacêutica.

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