Memento Mori: Análise Narrativa de Vídeo (incompleta)


Memento Mori é um filme do espectro low-budget, produzido no ano de 2000 pelo cineasta britânico Christopher Nolan, como uma readaptação da história homônima de 30 páginas publicada por seu irmão, Jonathan Nolan. O filme pertence a categoria da cena neo-noir estilo revenge-film.
As obras da corrente cinematográfica neo-noir apresentam temáticas usualmente pessimistas, envolvendo enredos centralizados em sentimentos de culpa, desilusão, ambigüidade, paranóia, desolação e alienação em tramas transgressivas na cultura padronizada no início da década de 40 na América do Norte, como maneira de representar as ansiedades generalizadas de uma sociedade moldando-se a um novo período social de pós-guerra. Enredos e tramas anti-hollywoodianos que envolvem, que se justapõem e entrelaçam em elementos clássicos como subgêneros de thrillers, ficção científica especulativa, crimes, musicais melodramáticos, etc.
Revenge films normalmente são conceitualizados por uma figura de protagonista tida como heroica, surgindo assim uma maneira de justificar moralmente o crime por meio da empatia com a vítima. Também se manifesta como uma forma de denunciar a frustração pública em casos policiais e jurídicos, devido sua ausência em transmitir segurança e justiça para a população marginalizada.
O filme em questão é demarcado pelo seu humor e tom que enfatizam a percepção da frieza e uma fotografia de ângulos extremamente específicos que caracterizam o gênero cinematográfico. Memento tem uma estrutura narrativa muito fragmentada e não-linear, como um subsídio e artifício que insere a audiência no prisma psicológico do protagonista. A narrativa permite que o espectador torne-se um detetive para desnivelar os sub-plots do roteiro, pois a descrição cinematográfica se desnivela de uma forma diegética. No decorrer do filme, há a tendência de confundir a expectativa da audiência por meio da linkagem das três narrativas paralelas e não-lineares que são presentes na estrutura do filme – todas na perspectiva da condição de uma das manifestações de amnésia anterógrada, traço predominante e explorado no filme onde o protagonista desenvolve este trauma após o suposto assassinato de sua esposa. A narrativa é feita em primeira pessoa, na qual o protagonista Leonard explica às pessoas sobre sua condição de ser um homem cujo ciclo perdura por apenas 10 minutos – todas suas memórias são apagadas após este período, retornando a um sentimento de vingança pelo assassino de sua esposa, utilizando recursos para reter a memória tais como escrever e registrar acontecimentos importantes logo após sua ocorrência, tirar fotos de pessoas com informações referentes ao que ele acredita lembrar-se em relação a elas e até mesmo tatuar o próprio corpo com informações relativas à pessoa que o traumatizou após o assassinato e estupro de sua esposa. O filme tem pilares de composição que compõem uma empatia pelo protagonista pelo fato de que Leonard explana às pessoas sua história de acordo com sua concepção de mundo, explorando aspectos de como é viver com estress pós-traumático em conjunto com amnésia anterógrada, e como isso o deixa vulnerável, mesmo que o personagem pareça inflexível a isso e excessivamente confiante pelo fato de que consegue considerar fatos mais importantes do que memórias, que, na concepção dele, seriam embargadas de opiniões parciais e mutáveis, irrelevantes para uma investigação ou para lidar com o mundo que o cerca – como um mecanismo de defesa desenvolvido para lidar com sua perturbação.
As cenas são dividas numa paleta de cores que pode ser dividida se analisada cronologicamente, já que, como supramencionado, o filme inclina para um estilo de narrativa anacrônico. Há também cenas específicas em preto em branco, infiltrando-se em fragmentos da história como uma maneira de representar um flashback. A primeira cena do filme conecta-se com a última, e algumas especificidades apenas são elucidadas após ler a obra original do criador Jonathan Nolan.
Em conclusão, quanto ao título do filme, podem ser feitas miríades de associações, como por exemplo a etimologia da palavra “Memento”, que representa uma metonímia do tempo, algo que pode ser encontrado no mundo tridimensional e conectado com memórias (as fotografias simbolizam esta similitude analógica por meio das fotografias retiradas de pessoas que ele acredita conhecer há pouco tempo, porém que já o manipulam por um período incerto no que concerne o que é exposto pelo filme). “Memento Mori” é um oximoro, cujo significado em Latim significa literalmente “lembre-se de morrer”. A temática do filme leva ao questionamento de como uma pessoa pode lembrar-se do futuro, sendo que já não predispõe da aptidão de absorver o presente, resultando em envolvimento de situações de risco e violência. Cada ciclo de 10 minutos representa desespero, assim como uma exortação de viver por uma pessoa (sua esposa assassinada), de certa forma subconscientemente e paradoxalmente grato por sua condição de memória de curta duração (ele é assertivo de que esta é uma característica vantajosa para ele, pois atribui uma razão à sua existência), no sentido de que há uma pessoa amada esperando vingança, há uma tarefa a ser feita, que, por fim, é cíclica – ele é moralmente corrompido por pessoas perversas ou com interesses escusos, policiais corruptos, traficantes degenerados e até mesmo pessoas que compactuam em deixá-lo ainda mais confuso pelo fato de ganhar alguma espécie de benefício em relação a isso – pedir aluguel múltiplas vezes, escrachar uma pessoa mais suscetível e predisposta a não gravar na memória os fatos ocorridos.

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