Rattus Organolepticus Em Barracas de Cachorro Quente

Por quê?
Senti vontade.
Você percebe que sua vida está desorganizada quando está há dois meses precisando de assistência médica, e tudo que faz é aleatoriamente se dopar com medicamentos profiláticos auto-prescritos baseados em achômetros termolábeis como montanhas russas submersas em infusões de água fervendo.
Você percebe que sua vida está desorganizada enquanto escreve prendendo a respiração para que alguns órgãos internos - vamos chamá-los de toupeiras-nariz-de-estrela, sempre foram doutrinados a serem assim - não implodam enquanto se retorcem em uma Guerra Neonazista violenta nas suas entranhas, desenhando uma suástica de Ku Klux Klan em suas vísceras já desmontadas, ao passo em que tudo o que você faz é hastear a bandeira com as cores mais serelepes da vida.
A mesma vida desorganizada.
Desmontada em alguns pedaços assimétricos de lego, pedaços que são animais disformes, que criam vida em suas formas geométricas, que sofrem de hipermobilidade crônica, rastejam-se por debaixo da tubulação de esgoto, enquanto você brinca com seus ratos domésticos.
A mesma vida disforme, geométrica, assimétrica.
Hipermóvel e hiperflexível, onde estas toupeiras que por vezes são estes mesmos órgãos hecatômbicos, acabam por se fundir com os próprios pedaços de lego, dantescos de astenia e desgaste, astenia e calejamento de tanto surrar a cara na rua, em casa, na cama, no alprazolam que tem maior pico de concentração após, no máximo, duas horas após a ingestão. Três comprimidinhos de textura lisa como a glande que você não tem e eventualmente compra um gel DHT proibido pela anvisa para que enfim possa ter, três comprimidinhos circulares, quase esféricos, levemente achatados, talvez como uma tenia saginata, aquela que possui ventosas no lugar dos ganchos para que possa se prender junto às toupeiras-nariz-de-estrela e assim possam induzi-lo a um estado de coma que se perdura por três dias.
Às vezes apenas queria ser um rattus norvegicus. Vario entre querer ser um rattus com histórico de discriminação social enraizada em gatilhos históricos altamente violentos e com consciência social, o que dificultaria o relacionamento entre a colônia de outros ratos. Seria interessante ser um rato sem ser na Idade Média, sem ser acusado, coagido e coibido a trazer a peste negra, enquanto a culpabilização deveria recair sobre as verdadeiras perpretadoras, as tenebrosas lêndeas de carrapatos.
Um rattus rattus doméstico, pós-moderno, sem legos, sem toupeiras, sem alprazolam, sem vísceras e vicissitudes, sem escotofobia e discriminações estéticas, sem altos níveis de consciência do id e alter-ego.
Apenas ser recheado por cobertores quentes como uma panqueca de roedor, caminhar com destreza em flácidos lençóis, alvos lençóis, colchas retalhadas macias e escuras.
Macias, escuras e retalhadas por alguém incapaz de conter a obssessão por anticolinérgicos, incapaz de postergar o inevitável da violência urbana, opressão estrutural e institucionalizada, incapaz sequer de reler o texto que escreve e principalmente incapaz de regular sua temperatura através de uma longa cauda de murídeo que dilata suas veias para sentir mais ou menos calor, enquanto dança com as patas almofadadas por travesseiros com cheiro de lavanda e percorre a omoplata de quem vos escreve.

Comentários

Postagens mais visitadas